sábado, 14 de novembro de 2015

A Colina Escarlate ou quando Del Toro virou o Spielberg


Atenção: não que muita gente leia esse blog, mas minhas resenhas sempre contém spoilers. Não sei escrever de outro jeito. =/

Sempre fui uma grande fã do Guillermo Del Toro. Assim, muito fã. Meu gosto para cinema não é uma das coisas mais aprimoradas nenhuma (demorei 27 anos para ver um Poderoso Chefão e acho que dormi no meio do filme) então gostar de um diretor que faz filmes fora do padrão hollywoodiano era algo fora do normal para mim.

Mas recentemente Del Toro tem errado a mão. Primeiro foi com o filme Mama, que eu particularmente vomitei na segunda metade, embora tenha achado a primeira metade genial. E agora ele se enterra de vez com A Colina Escarlate, cujo filme, para mim, é um dos piores da atualidade.

E isso vindo da pessoa que contou os dias para assisti-lo e mobilizou todo mundo para ir no cinema. Além da direção, tinha o Tom Hiddleston no elenco, ou seja, tinha tudo para ser um filme bom e virou um filme clichezão ao extremo.

Veja bem: não tenho nada contra roteiros clichês. Eu vejo novelas mexicanas, pelo amor de deus. O problema é como a história é contada. Já vi filmes com enredo mais batido do que bolo serem geniais e filmes com roteiros pretensiosos se tornarem enfadonhos. Então o fato de o filme todo ser clichê, não é o que me levou a odiá-lo.

A história do filme é simples: uma jovem escritora (Edith) vê fantasmas desde a infância. Ela conhece um cara misterioso (Tom Sharp), se apaixona, casa e ao se mudar para a casa dele e de sua irmã, começa a ver fantasmas e coisas estranhas. O filme se passa acho que nos anos de 1800, etc. etc e tal.

O grande problema do filme é, como eu disse, a forma que a história é contada. Por causa da primeira cena, já sabemos que a personagem vê fantasmas e que tudo que ela conta é real. Achei que, tendo em vista o Labirinto do Fauno, poderíamos ter dúvidas até o final se os fantasmas são reais ou se tudo é loucura. Nope, esqueça. Não há margens para dúvidas. Essa plot é extremamente mal aproveitada e isso é emputecedor.

Também esqueça a caracterização de personagens. Não há tempo para isso. Ao invés de construir seus personagens e usar o talento dos seus atores (o elenco do filme é formidável), Del Toro prefere usar o esteriótipo absurdo. Sabemos que Edith é forte, inteligente, foda porque a personagem carrega todas essas qualidades na cara. Sabemos que tem algo estranho com seu marido e sua cunhada porque eles são creepy ao extremo. E porque o fucking filme revela que há algo errado nos primeiros 40 anos minutos.

A história é tão mal narrada que não há como ter surpresas. As cenas iniciais quebram toda a tensão do desenrolar do filme, Ainda quando Edith e Tom estão se relacionando, já sabemos que há um segredo envolvendo os Sharps. Quando o pai dela morre, sabemos que a porra é séria e que essas pessoas não são boa coisa. Por causa da narração do começo, sabemos que os fantasmas e o que eles contam a Edith são reais. Não há como um filme ser bom quando é tão mal dirigido.

Fazendo um paralelo com o Labirinto do Fauno, é visível como a qualidade da direção do Del Toro caiu ao longo dos anos. Labirinto não é um filme incrivelmente original em seu roteiro, mas a forma como a história é narrada é simplesmente sensacional. Até hoje eu procuro pistas para ver se tudo era imaginação da personagem ou se de fato havia algo de "real" naquele mundo. Você não tem ideia do final do filme, tudo é simplesmente mágico do começo ao fim.

Bons tempos.

Com relação a história, parte dela é machista, parte dela é feminista. Temos personagens femininas fortes, sendo que uma luta contra a sua condição de mulher e escritora em um mundo opressor. Ponto para o filme. Mas, ao mesmo tempo, essa essência da personagem se perde quando ela encontra um homem que valida o seu talento e a sua capacidade. Edith pouco se importava com opiniões antes de Tom Sharp aparecer. Bastou ele elogiar seu trabalho e mostrar interesse, pronto, a opinião dele virou o fundamento do trabalho dela, a ponto dela desmoronar quando ele a critica.

Também, para variar, há aquela boa e velha demonização do incesto. Acho que a relação incestuosa dos irmãos podia ter sido algo muito bem explorado no filme, do que simplesmente serem pessoas do mal. Dois irmãos negligenciados, abandonados e isolados, se aproximam como forma de conforto. Essa trama, inclusive, já foi muito bem escrita na obra "Jardim dos Esquecidos", só que este livro não tem lá muito apelo popular. Não entendo qual a necessidade de frisarem que o incesto é demoníaco. Não acho que abordar o tema com profundidade e sem tanto esteriótipo vai incentivar irmãos a transarem por esporte, mas tanto faz. Perdeu-se uma oportunidade. Incesto é do demônio e incestuosos são monstros, bla bla bla.

Agora devo dizer que por mais odioso que o filme seja, a fotografia é deslumbrante. Assim, deslumbrante mesmo. Não há uma cena, um enquadro que não seja minimamente pensado e otimizado. Nesse ponto, Colina merece um óscar. Mas só nesse ponto.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

O Não-Adeus a Blumenau


A primeira vez que eu efetivamente conheci sofrimento, foi quando deixei Blumenau.

Foi o primeiro de muitos sofrimentos, claro. O contexto da minha mudança foi horroroso e depois dessa, o sofrimento só foi maior. Mas até o momento de eu saber que minha vida estava irreversivelmente mudada, que eu me quebraria em pedaços e que nunca mais seria inteira, o primeiro sofrimento de verdade que vivi foi quando me mudei de Blumenau para Caxias do Sul.

Blumenau. A cidade em que fui feliz. O primeiro e talvez único lugar que fui querida, fui estimada, me senti parte de um todo. A cidade que me acolheu, que me deu oportunidades, que me fez atingir o máximo do meu potencial. A cidade em que conheci o significado da palavra amigos pela primeira vez. A cidade que até hoje me assombra e na qual eu ainda penso e choro quando penso no que minha vida poderia ter sido se eu tivesse tido a opção de continuar lá.

Deixei Blumenau correndo e sequer pude lhe dizer adeus. Deixei amigos que eu amava e de quem não pude me despedir. Deixei minha infância lá, minha ingenuidade e os meus sorrisos. Deixei meu coração lá. Minha felicidade lá.

Felicidade se tornou um luxo depois daquele dia em que eu entrei no carro, saí da cidade com a certeza (ainda que não soubesse dos eventos) que eu não voltaria mais para la.

Deixei Blumenau com 10 para 11 anos. Hoje, quase 18 anos depois, lágrimas escorrem enquanto eu me esforço para não deixar minhas lembranças se tornarem difusa. Lembro dos meus amigos, de ficar fazendo nada enquanto esperava minha mãe terminar suas aulas, de competir no xadrez, de participar dos concursos literários. Lembro de matar aula para ir no cinema, lembro do pastel de frango que eu comia no recreio, lembro da minha professora que abraçava os alunos, lembro de eu cantando mal no coro, lembro de brincar na cama-elástica.

Já tentei dizer adeus a Blumenau. Deixei de ir a cidade aos 17 anos, temendo que as viagens acabassem com a minha sanidade e me impedissem de buscar meu caminho. Mas não é possível. Blumenau possui recordações maravilhosas da minha história. 3 anos de vida que valem mais do que os outros 15 que se sucederam depois que eu saí de lá.

Sei que hoje a cidade está diferente. Sei que não vou reencontrar meu passado, Sei que a vida segue . Mas não consigo deixar essa vida para trás.

Ah Blumenau... meu coração segue sendo teu.
Sempre.

domingo, 1 de novembro de 2015

Novelas Mexicanas, meu grande amor.


Sempre gostei de novelas mexicanas.

Sempre mesmo. Foi um amor a primeira vista. Comecei vendo alguma Maria no SBT e nunca mais parei.

Na adolescência, eu chegava a ver cinco novelas por dia. Se não me engano, eram duas na parte da tarde, uma infantil e mais as duas novelas noturnas. Vejam bem, eu tinha 14 anos e não era muito dada a vida social. De fato, eu tinha muito tempo sobrando.

Tenho uma explicação para a maior parte das coisas que aprecio. Sei que meu amor por filmes de action hero dos anos 90 decorre do fato da minha mãe me levar no cinema desde criança para ver estes filmes. Sei que meu amor por Bowie decorre das lembranças que tenho de dançar as músicas do filme Labirinto, que assisti pelo menos umas 40 vezes quando tinha cinco anos. Sei que amo o tom Hiddleston porque ele interpretou o Loki. Todos os meus gostos decorrem de boas memórias.

Exceto, claro, as novelas.

Comecei a ver novelas frequentemente em um período triste da minha vida. Isolada, sozinha, sem amigos, onde a minha vida havia se perdido. Assistia novelas para preencher um vazio. E quando este vazio deixou de ser, ainda assim, esse grande amor ficou comigo. E por quê?

Talvez pelo conteúdo.

Novelas mexicanas foi meu primeiro contato com o feminismo. Claro, não o feminismo teórico ou até coerente. Mas aos 10 anos, quando vi a Usurpadora, eu comecei a ver mulheres heroínas.

Mesmo nas novelas globais, o papel da mulher é passivo. A mulher sofre, sofre, supera o sofrimento e ao final atinge o casamento. Em novelas mexicanas, eu tive outra perspectiva. Sim, vi mulheres sofrendo. Vi mulheres chorando. E vi mulheres salvando homens, a si mesmas, suas amigas e suas famílias.

Foi ali que eu vi que eu podia ser mais. Não talvez naquele contexto, mas o mundo me reservava mais.

E hoje, em 2015, vejo novelas cada vez mais ousadas, com personagens mais estruturadas, combatendo a homofobia, o machismo e o sexismo sem reservas.

Não diria que novelas mexicanas moldaram meu caráter.

Mas que me ajudaram a ser mais... ah ajudaram.

domingo, 9 de agosto de 2015

O Dia em que eu Resolvi Escrever meu Blog

Quem me conhece, sabe que eu tenho muito a dizer sobre qualquer assunto.
Então finalmente decidi deixar de ser apenas a comentadora ou a escritora de textão no facebook e resolvi tentar fazer meu próprio blog.

Não espero fama, sucesso, dinheiro ou reconhecimento. Não espero sequer escrever bem.  Na realidade não espero nada. Esse é meu espaço para falar da vida, de filmes, de musica, de games, de análises feministas e do que mais vier na cabeça.

O título foi escolhido porque hoje em dia tudo é inspirado em fatos reais. E bem, muitas coisas que falarei aqui, é a arte imitando a vida.